2.12.2012

de próprio punho

Estou em Caxias. Havia muito tempo que eu não subia a serra. É ótimo lembrar que esse ar ainda me faz bem. Foi bom ter chegado aqui ontem, assim o cenário bucólico dessa cidadezinha me acalmou ao receber a notícia da morte da minha querida Nippy, também conhecida como Whitney Houston. Ainda lembro dela menina e cheia de sonhos. Quase gravamos juntas não fosse a minha agenda maluca de viagens naquela época. Enfim, descanse em paz, filha. Bem, eu estava dizendo que estou em Caxias e é muito bom estar aqui. É claro que ao saber da tragédia da enchente da última terça (07), fiquei sem palavras, chocada. Só ouvi relatos assim de uma enchente ocorrida há 30 anos. Na ocasião, quase tive que cancelar a Festa da Garrafada. Pior do que aquela, só a horrível enchente de 1941 em Porto Alegre. Apesar de pequena, menina, ainda me lembro do terror. Enfim, estou em Caxias e ao passar pelo centro vi as estruturas já montadas para a Festa da Uva. O corso, o glamour, as soberanas! Como essa festa cresceu! Quase não cabe mais numa cidade tão pequena como Caxias. Eu quase não acreditei que é um evento de tamanho porte! Lembro-me quando eu quase fui princesa. Fui escolhida para participar, mas recebi uma carta muito triste de Gilda, minha prima que mora em Chapecó e precisei interromper o processo para ir atendê-la. Gilda é como uma irmã para mim. Ao regressar, após a resolução do problema – que não vem ao caso – fui convidada a desfilar no corso mesmo assim. Não aceitei, é claro. Teria sido muito injusto. Alguns anos depois, eu quase desfilei de novo, como bailarina. Quase fui bailarina, muito antes do grupo Raízes, prefiro nem comentar a época. Azar eu ter os joelhos fracos. Les Pyrénées savent! Não posso mais esquiar. Mas não é sobre isso que eu queria falar, todo esse tempo. Eu estava passeando pelo centro, quando passando em frente ao Reynolds, fechado desde 2007, reparei as portas abertas e o belíssimo lustre que tantas recordações me traz. Eu quase fui proprietária do hotel, mas nem gosto de lembrar a briga horrorosa que tive com família cujo nome não devo mencionar. Entrei, toquei nas paredes escuras e respirei fundo... não era o mesmo ar. O ar dionisíaco das festas da garrafada. Acho que estou ficando velha demais e por isso sentimental demais, melancólica demais, nostálgica demais. Perto do fim, a gente fica mais sensível. Ou quase isso. com amor, tia Brígida.

4.12.2011

desafeto.

Brígida brigou com todos e desde então está reclusa em sua casa de campo. (ou está em Chapecó, é difícil saber).
Parece que no calor das desavenças, jogou celular, laptop, netbook, paltop, ipad, iphone, tudinho, numa cachoeira. Gilda, sua prima, agora mestre xamã, ajudou-a no ritual de desprendimento. Gilda, superou aquele câncer - devido às salsichas de peixe - com xamanismo e muita garrafada. A única atividade recente de Brígida foi ter respondido um processo por ter poluído a cachoeira com eletrônincos. E não se sabe mais nada.

3.03.2010

sumida.

Brígida já foi beatnik, já foi hippie, já foi yuppie, já foi punk, já foi do PFL, nos anos 2000 ficou meio saudosista e voltou a usar ombreiras e maquiagem azul, depois, por causa do neto postiço, começou a ouvir essas bandas com caras de maquiagem no olho, calça justa e cabelo estranho cantando, virou emo, miguxa e agora, alguém sabe?
Com 15 anos Brígida estava lendo Geração Beat. Sim foi uma desgraça. Que ela era precoce todos sabiam, mas daí a fugir de casa e ir parar em Nova Iorque de boina vermelha e óculos escuros, tocar bongô na Times Square foi demais para a família. E aquele bando de gente vagabunda, como dizia seu pai.
Volto para casa, meio descrente da vida e percebeu que precisava ampliar seus horizontes. Daí surgiram as famosas festas da garrafada. Santa garrafada. Sabe-se lá o que tinha dentro. Aquele bando de hippie, rico e desapegado, fretava um ônibus e todos iam para o Hotel Reynolds. Brígida dizia ser um local místico de peregrinação energética. Ninguém sabia ao certo. O fato é que todos saiam felizes, realizados e ampliados dali. Brígida, à época, havia se tornado uma espécie de oráculo e, absolutamente todos os habitantes de Nova Saturno – comunidade auto-sustentável que Brígida fundou – a respeitavam muitíssimo.
Cansou da viagem, cansou daquela gente que não se mexia para nada. Saiu da comunidade, terminou o curso superior e foi viajar. Como ela conseguiu dinheiro para tanto era algo misterioso também. Suspeitavam que ela tinha alguma ligação com o hotel. Contudo, é claro, não existe nada factual contra Brígida. Enfim, na vibe yuppie, Brígida construiu todo seu patrimônio, todinho. Trabalhou para grandes corporações, redes de televisão... dizem que era espiã dos ditos subversivos do lenço laranja na época da ditadura, mas ninguém suspeitaria dela. Todos achavam que ela era mesmo rica e excêntrica, o que não era mentira. Além do mais, jogava tênis, não se podia suspeitar de alguém que jogava tênis.
Quando entrou para a política, no PFL, apesar de nunca ter admitido, teve muito envolvimento no plano cruzado. Mas, realmente, depois disso, ter apoiado a candidatura do Collor não foi a coisa mais inteligente do mundo. Ela costuma negar os anos noventa. Mente que nem estava no país, essas coisas. Mas quantas fotos de festas da garrafada itinerante foram tiradas Palácio do Planalto. Na atual sala do Sarney, existe um quadrinho, logo abaixo da foto com a faixa presidencial, onde Brígida e ele disputam a garrafa de Butiá. Brígida diz que nunca foi com a cara dele, já o senador, ...muito pelo contrário.
Gilda adoeceu em 2002 e Brígida, sempre solícita e carinhosa com a família, largou a política e foi de mala e cuia para Chapecó cuidar da prima. Gilda e ela se conheciam desde a infância e haviam passado por muitas coisas juntas. O primeiro namorado de Brígida, por exemplo, foi o último marido de Gilda. Morreu num acidente. Ele era fornecedor da tal fabrica de salsicha de peixe para qual Gilda trabalhava. Brígida acha que o câncer no intestino é devido à salsicha. Gilda tinha se viciado. Salsicha de manhã, picadinho de salsicha no almoço, cachorro quente na janta. Gilda nunca cuidou bem da saúde. Nas festas da garrafada era a primeira a passar mal. Geralmente os convidados levavam entre 30 e 48 horas para começar a passar mal, mas Gilda, nas primeiras 14 horas de festa já estava entregue em algum dos quartos do Hotel Reynolds. O fato é que Brígida dedicou anos a Gilda até que melhorasse bem. É claro que foi convencida de que as coisas não melhorariam tanto e que ela deveria viver a vida.
São viagens e mais viagens, hoje ninguém sabe onde Brígida está. Por vezes ela passa em Chapecó para levar Gilda dar uma volta. Nas últimas férias, nos Pirineus, Brígida sofrera um acidente besta, mas acabara por ficar dois meses em uma cama de hospital. Fraturou a bacia. Coisa de velha, dizia ela, descrente da própria idade.
A última notícia que tive de Brígida foi sobre a negociação do Hotel. Parece que ela entrou em depressão profunda quando soube que o hotel seria agora Reynolds Business Center. Bem assim, sem nenhum glamour ou vestígio de história. Brígida estava tentando a compra do imóvel, mas não conseguiu sociedade, nem minoritária, para a compra. O Hotel continuou pertence dos Backendorf.
Então, por onde andará Brígida depois desse baque?

12.17.2009

Encontrei Brígida no mercado

Encontrei Brígida no mercado, sempre simpática, sempre preocupada. Levava muito Jägermeister no carrinho. Eu tive que perguntar ‘pra que tanta bebida?’. Ela me olhou e sorriu. ‘Noite do poker!’, como se fosse óbvio que 5 velhinhas pudessem beber 10 garrafas de Jägermeister. Eu nem sabia que ela estava na cidade (sim, ela está na cidade e vai ficar para o Natal). ‘Trouxe Gilda pra tomar um ar na serra e, tu sabes, Gildinha gosta de beber’. Eu pensei que Gilda estava em fase terminal daquele câncer no intestino – sim, o da salsicha de peixe – mas Brígida me contou que Gilda está 100%, praticamente um milagre! E que agora ela coordena o grupo de corrida da terceira idade em Chapecó. Eu abracei Brígida bem forte, porque nunca se sabe quando se vai encontrar essa figura novamente. Eu disse a ela ‘não exagera, heim’ e ela me olhou com aquela cara de mãe e disse ‘bobagem’ olhando as 10 garrafas.

8.03.2009

me contaram...

que Brígida vai comprar o prédio do antigo Hotel Reynolds! Parece que ela e a Gilda – sim, a de Chapecó - receberam herança gorda de um tio fazendeiro. Não sei direito... quem me contou foi a síndica aqui do prédio, que é prima do ex-marido da Gilda. Enfim, parece que vai comprar! Tudo isso porque quer reviver as festas da garrafada do quarto 209! Gente! Eu fui! Em 92! Meu pai me levou... mas eu fiquei no 404 com as crianças, é claro... bebendo garrafada de groselha sem álcool. Enfim, ansiedade agora! Será? Alguém tem notícias dela???

6.16.2009

Nunca mais soube da Brígida desde que ela foi a Chapecó. O que será que houve? Tô esperando meu pacotinho de linguiça de peixe desda época do trema. Tipo... 1912. Tipo... Brígida: come back.